segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Editorial - Preto no Branco (E vice-versa)

          O blog é um trabalho realizado entre os alunos que atualmente cursam o 2º ano do ensino médio no CEFET/RJ e a professora Liana Biar. O intuito do mesmo é desenvolver cinco tipos diferentes de gêneros textuais, de forma que os alunos coloquem em prática o conteúdo estudado na sala de aula, sendo esta a nossa última avaliação bimestral.
          O grupo, composto por André Sabatini, Pâmela Carvalho, Paola Valerio, Patrícia Carvalho e Thaiane Medeiros, todos da turma 2HMED – 2010, ficou responsável pelo tema “Preconceito Racial” e pretende trabalhar de forma a esclarecer conceitos e trazer dados sobre o tema.
          Em relação ao mesmo, os integrantes são contra as idéias preconcebidas ou estereótipos que acabam por aumentar os diferentes tipos de preconceito, tanto racial, quanto social e sexual.
          Acreditamos que os traços étnicos distintos são um dos pontos mais positivos de nosso país, onde aparecem com grande força; Repudiamos qualquer mau trato, chacota ou constrangimento gerado em detrimento de tais características e esperamos que essas opiniões formadas antecipadamente, tirando como base apenas o exterior, sejam modificadas na sociedade, pois, pelas pesquisas, foi possível notar preconceito até dentro de um mesmo grupo-étnico.
         Esperamos que apreciem o blog e reflitam sobre o assunto. Quem sabe no futuro, através de grandes e pequenas atitudes, possamos romper a barreira da ignorância, deixada por sociedades antiquadas e completamente desprovidas de conhecimento sobre genética, que se autodenominavam superiores, e entremos numa sociedade mais igualitária, baseada na essência e não na “capa” que a reveste.

Preconceito contra indígenas

O preconceito racial não atinge apenas os negros. Os indígenas também sofrem discriminação e violência. Há diversos relatos de assassinatos e atos de violência contra indíos, como por exemplo o caso do índio Pataxó José de Jesus da Silva, 37 anos, que foi assassinado em uma emboscada no dia 24 de outubro de 2010. Os índios foram os primeiros a sofrer com a colonização portuguesa, tendo que abrir mão de sua cultura, sofrer humilhações. Até hoje, são vistos como raça inferior.
Canções, charges, livros retratam um pouco, de maneira artística, o histórico de preconceito e exploração pelo qual passaram e passam os indígenas:


"Quem me dera

Ao menos uma vez

Ter de volta todo o ouro
Que entreguei a quem
Conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora
Até o que eu não tinha (...)

Quem me dera

Ao menos uma vez

Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado
Por ser inocente."

Índios - Legião Urbana


"Depois de exterminada a última nação indígena

E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida

Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias

Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi

Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi

O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá

Um índio preservado em pleno corpo físico

Em todo sólido, todo gás e todo líquido

Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro

Em sombra, em luz, em som magnífico"

Um índio - Caetano Veloso



Entrevista

Nosso entrevistado foi Roberto Carlos Pereira de Carvalho. Procuramos compreender seu ponto de vista em relação a preconceito racial e descobrir se ele já tinha sido alvo de racismo.

1) Como início, gostaríamos de saber o que você entende por preconceito? E preconceito racial?
O preconceito é discriminação em relação a qualquer aspecto que diferencie um cidadão dos demais.
O preconceito racial restringe-se apenas a cor da pele, quando são tomadas atitudes para rebaixar ou humilhar uma pessoa por causa de sua raça. Este preconceito geralmente existe em pessoas que se julgam melhores do que as outras por terem uma cor de pele ou raça diferente. Os mais atingidos por esse preconceito são sem dúvida os índios e negros, porque a raça branca já domina o mundo, e alguns se acham melhores do que os outros.

2) Tempos atrás, acreditava-se que negros eram inferiores a brancos e, por isso, deveriam realizar todo tipo de tarefa, e não eram tratados como ser humano, sendo até mesmo vendidos como produtos. Qual a sua opinião sobre os maus tratos aos quais os negros eram submetidos? 
Os brancos se sentiam superiores por dominarem a política, o capital, a tecnologia. Os maus tratos também eram aceitos pelos negros porque mesmo em maior número eles não se sentiam capazes de lutar por seus ideais. Quando um grupo de indivíduos é massacrado física e psicologicamente ele perde a sua individualidade e a sua força, passando a acreditar que são realmente inferiores.

3) É evidente que, mesmo após a abolição, os traços do preconceito ainda assombram a nossa sociedade. Já sofreu algum tipo de preconceito?
Trabalho na área de segurança, onde há um número alto de negros, mas isso pode ser um aspecto tanto positivo quanto negativo. Uma vez, quando trabalhava num condomínio comercial da Barra da Tijuca, recebi do síndico o pedido para retirar um menino que vendia doces na divisa entre este condomínio e o vizinho. Eu e mais um colega de trabalho abordamos o menino, pedimos que ele se retirasse e ele o fez. Quando voltamos, o síndico parecia alegre por termos feito com que o menino saísse, dizendo:
- É, vocês realmente conseguiram expulsar o menino.
- Sim, conseguimos executar um bom trabalho. – respondi.
- Bom... Acho que você e seu colega só expulsaram o menino porque vocês são pretos. Sua cor assusta.
Pessoas ao redor ouviram a frase preconceituosa. Alguns queriam que fossemos para a delegacia ou que o síndico sofresse uma punição rígida. Mas, achei suficiente que aquele homem engolisse todo seu orgulho e preconceito e pedisse desculpas a mim e a meu colega, na frente de todos.

4) Acredita que isso (tanto sofrer preconceito quanto saber dos maus tratos sofridos por outros negros) tem influência no seu atual pensamento sobre os outros grupos-étnicos? (sentimento de raiva, tristeza, etc)
Sim. Acho que todos os grupos étnicos devem ser respeitados e tratados de forma igualitária. Quando sofri preconceito, percebi o que acontece com os outros e me senti solidário com as outras pessoas que sofrem preconceito.

5) Se pudesse acabar com o preconceito racial em todo o mundo, você o faria? De que forma? (Mais educação, mais projetos sociais, mais inclusão social...)
Sim. Investiria principalmente na educação e na saúde, já que os negros ficam a margem economicamente, por causa de seu histórico de exploração. Tentaria homogeneizar a sociedade e colocar todos em pé de igualdade.

Roberto Carlos Pereira de Carvalho

domingo, 21 de novembro de 2010

"Somo crioulo doido, somo bem legal"

Neste mês de consciência negra, é importante ressaltar essa cultura que tanto contribuiu para a formação de nossa identidade nacional e que ainda hoje é vítima de preconceito. Algumas fotos para ilustrar a beleza da raça negra:

Allan Souza

Allan Souza

Lucas Maciel

Vanessa

Carla Gomes

Carla Gomes

Priscila Carvalho

Priscila Carvalho

Priscila Carvalho

Rosa Reis

Rosa Reis

Pedro Henrique Carvalho

Pedro Henrique Carvalho

Pedro Henrique Carvalho

Pablo Carvalho

Luiz Guilherme Martins e Allan Souza

"Editorial Musical"

Uma pequena reunião de músicas que falam do preconceito e da situação do negro de maneira geral. Nada melhor do que uma boa música brasileira, repleta de influências africanas, indígenas, etc. para retratar o panorama sócio-racial de nosso país. Para todos os ouvidos.

"Somo crioulo doido somo bem legal.
Temos cabelo duro somo black power.
Somo crioulo doido somo bem legal.
Temos cabelo duro somo black power.(...)
Branco, se você soubesse o valor que o preto tem.
Tu tomava um banho de piche, branco e, ficava preto também.
E não te ensino a minha malandragem.
Nem tão pouco minha filosofia, porquê?
Quem dá luz a cego é bengala branca em Santa Luzia.
"
Ilê Ayê – Gilberto Gil

"Esse é o canto da vitória que sua alma liberta
sai desse canto agora e canta,  porque a vida é incerta
Quebra as algemas da senzala no seu inconsciente (...)
Por que somos? Minoria no congresso maioria nas favelas
Somos! Maioria nos presidios e minorias nas telas
Liberdade só se revela quando o povo se rebela
só consigo me ver na tela da tv quando desligo ela(...)
Dinheiro é necessidade não é vitória, meu bem,
vitória sera quando estampar um preto numa nota de cem (...)
Escravidão não acabou. Você sabe o que mudou?
Temos nossas própria senzala bem longe da casa do sinhô.
Somente você pode se libertar" 
Canto de Vitória – Slim Rimografia


"Lembra da criança no sinal pedindo esmola?
Não é problema meu
Fecho o vidro
Vou embora...
Lembra aquele banco
Ainda era de dia
Tem preto lá na porta
Avisem a polícia...
E os milhões e milhões
Que roubaram do povo
Se foi político ou doutor
Serão soltos de novo
Quem planta preconceito
Racismo, indiferença
Não pode reclamar da violência."
Quem Planta Preconceito - Natiruts

“Negro e nordestino constróem seu chão
Trabalhador da construção civil conhecido como peão
No Brasil, o mesmo negro que constrói o seu apartamento ou o que lava o chão de uma delegacia
É revistado e humilhado por um guarda nojento
Que ainda recebe o salário e o pão de cada dia graças ao negro, ao nordestino e a todos nós
Pagamos homens que pensam que ser humilhado não dói
Racismo é burrice – Gabriel o Pensador




Notícia - Dia da Consciência Negra: Busca à igualdade e tolerância racial

          Ontem, dia 20 de Novembro, o país comemorou, mais uma vez, o Dia da Consciência Negra, que tem como principais objetivos a reflexão sobre a consciência negra na sociedade atual e o incentivo à debates sobre igualdade.
          A data foi escolhida em homenagem a Zumbi, líder máximo do Quilombo de Palmares e símbolo da resistência negra a escravidão no Brasil, assassinado em 20 de Novembro de 1695. O dia é marcado em todo o país por manifestações, passeatas, seminários, atividades educativas e desfiles, visando acabar com o preconceito e a intolerância racial.








            

"Cansei de ser branquinho"

Crônica - Falso Cinza

- Bom dia, você saberia me dizer onde é a sala do primeiro período de jornalismo ?
- Aqui. – respondi levantando os olhos.
E assim foi meu primeiro contato com Pedro. Banal, simples, a não ser pelo fato de todos os pêlos do meu corpo terem se ouriçado no exato momento em que meus olhos se encontraram com os dele. Eu já conhecia alguns colegas de classe, já que costumava andar com um pessoal mais descolado, de outros períodos e acabei participando do trote da faculdade. Mais como veterana do que como caloura. Isso me dava sensação de certo poder sobre a classe, mas perdi toda essa segurança ao falar com Pedro. Nos aproximamos muito. Formávamos dupla em todos os trabalhos, ou incorporávamos mais alguém quando era necessário estruturar um grupo. Mas Marina e Pedro eram nomes certos. Éramos inseparáveis. Essa amizade começou a tomar um rumo diferente na festa de integração dos calouros. Passamos a festa toda juntos e o primeiro beijo aconteceu. Foi lindo, como eu havia imaginado. Na verdade foi mais. Por mais reais que fossem meus sonhos e devaneios não representavam de forma fiel o toque de Pedro. A cada dia ficávamos mais unidos. Parecia um conto de fadas.
O conto de fadas começou a mudar em nosso quinto mês de namoro. Ele conhecia minha família e todos o adoravam. Mas eu... Nunca tinha visto ninguém da família dele. Nem amigos, exceto os da faculdade. E eu custei a entender o porque disso. Talvez fosse melhor eu esclarecer uma coisa, antes de começar a contar minha história, já que este fato mudou minha vida. Eu sou negra.
Cinco meses. Seis meses. Oito meses. Um ano. E eu não conhecia uma pessoa sequer, da família de Pedro. E isso passou a me incomodar muito. Eu não podia ir à casa dele, não podíamos juntar nossas famílias... Pedi, ameacei, esbravejei, até que muito a contragosto, fui levada a casa de Pedro. Dia 28 de maio de 2009. Começava o fim de tudo.
Coloquei meu melhor vestido, minha melhor sandália, arrumei meu cachos, e modéstia  a parte, eu sou uma negra linda. Pelo menos era o que Pedro me dizia. E eu acreditava. Ele morava no Leblon e foi me buscar em casa. Antes de chegarmos lá, ele me perguntou se eu tinha certeza que queria fazer aquilo. E a pergunta teve uma entonação de ameaça, repreensão. Confesso que fiquei assustada, mas insisti. Se havia algum problema, algum dia, eu teria que encará-lo.
A casa era linda. Um jardim que parecia brilhar de tão verde e uma construção linda, de três andares. Passou-me a sensação de casa feliz, família harmoniosa. Caminhamos de mãos dadas pelas pedrinhas que faziam uma trilha sinuosa da garagem até o jardim. De mãos dadas até a porta, onde Pedro soltou minha mão, olhou em meus olhos e disse:
- Eu não sei o que pode acontecer daqui pra frente. Desculpe-me.
Fiquei atormentada, e ao perguntar o porquê daquilo, não tive resposta. Ele virou a chave e entrou. Entramos.
Era uma família linda como eu havia imaginado. Todos muito branquinhos, loiros, assim como Pedro. Estavam todos na sala. O pai, a mãe e a irmã de Pedro. Todos sorriam, mas no momento em que pus os pés no tapete de boas vindas, os sorrisos de desfizeram. Todos sentaram e pareciam me ignorar, até que Mário, o pai de Pedro perguntou:
- Filhão, cadê a sua namorada?
E Pedro respondeu de cabeça baixa: - Está aqui, pai.
- Cadê filho? Só estou vendo essa negrinha aí, deve ser a faxineira nova. - Essas palavras doeram fundo na minha alma. Eu mal podia acreditar no que estava ouvindo. Respondi, com forças vindas não sei de onde:
- A namorada do seu filho está aqui. Sou eu.
Mário levantou indignado, marchou em minha direção e me olhou de perto, dos pés a cabeça, enquanto sua esposa e filha olhavam espantadas. Voltou os olhos para Pedro e disse:
- Isso era tudo que eu não esperava de você.
Pedro não disse nada e isso foi o que me feriu mais. Ele não me defendeu, não levantou a cabeça. Ainda respondi novamente, disse que não sabia qual era o problema em nossa relação, e tive a pior resposta, que nunca poderia imaginar:
- Você é preta. Pre-ta. Seu lugar não é do lado do meu filho, vai manchar a linhagem da minha família.
Senti ódio. Senti nojo. E senti pena. De todos eles, principalmente de Pedro, que era um covarde, fraco. Fui embora. Pra nunca mais voltar. Pedro saiu da faculdade, nunca mais o vi. Custei a esquecê-lo, mas consegui. Nunca tinha visto de perto a face do racismo. Ele é feio e dói. Mas sei que um dia todos vão entender que a cor da pele é só um enfeite e jamais determinou ou determinará o caráter ou valor de alguém.



Reportagem - Preconceito “Irracional”

          No século XX, o cientista Charles Darwin entendia a evolução da espécie a partir de um processo de transformação e adaptação ao ambiente. Para ele, aqueles que mais se adaptavam às condições existentes tornavam-se predominantes sobre os outros. A linha de pesquisa denominada “Darwinismo Social” apresentava teorias que consideravam civilizações em um grau superior às demais.
          Com o prevalecimento “tecnológico” do continente europeu sobre os demais em um contexto de Revolução Industrial, iniciou-se a escravização dos africanos, já que sua cultura era supostamente inferior e, com o argumento de melhoria de vida e de “fazer bem” àquela sociedade, os europeus impuseram sua cultura ao longo do continente africano e, também, do americano.
          Uma das figuras mais famosas da história, Adolf Hitler, fez com que milhões de pessoas morressem, já que, para ele, a raça ariana, composta de alemães, era superior e todos aqueles que não pertencessem à mesma seriam exterminados.
          Em 1948, entrou em vigor na África do Sul, o regime segregacionista do Apartheid. O governo, formado por brancos de origem européia, negava aos negros direitos sociais, econômicos e políticos, de forma que prevalecessem os interesses daquela minoria dotada de poder.
          O preconceito racial vem percorrendo o caminho das grandes navegações até os dias de hoje e nem o advento da modernidade o resolveu. Até hoje negros, brancos, pardos sofrem em escolas, faculdades, empresas, e até mesmo em suas próprias casas.
          A dificuldade maior é exterminar esse mal por completo. Estudiosos dizem que a educação é a principal forma de fazê-lo. Em São Paulo, 2007, foi aprovada uma lei que indenizava vítimas de preconceito racial. Simone André Diniz, que “não preenchia os requisitos” para trabalhar como empregada doméstica, já que a preferência era por mulheres brancas, recebeu trinta e seis mil reais por ter sofrido este tipo de discriminação. E os números não param por aí.
           Ao mesmo tempo, contradizendo até mesmo a proposta de lei supracitada, que visa à diminuição da humilhação sofrida por milhões de pessoas, ainda existe o sistema de cotas, por exemplo. O que seria um tipo de vantagem para aqueles que se sentem prejudicados, acaba se tornando um mecanismo de preconceito, já que, se estudos da biologia comprovam que a genética é a mesma para toda a raça humana, por que manter uma estrutura ainda “separacionista”?
          Até mesmo o conceito de raça já está sendo questionado, já que o próprio pode ser interpretado através de diversas linhas teóricas sociológicas, filosóficas e científicas. Toda a discussão em volta deste tema só faz com que ele se torne um assunto mais polêmico e ainda sem conclusão definida.
          São muito evidentes os traços preconceituosos existentes em todas as sociedades. Apenas quando as idéias e personalidades das pessoas valerem mais que a cor da pele, ou qualquer outro tipo de estereótipo, viveremos em um mundo igualitário e respeitoso.